EM PREPARAÇÃO

Amor é fogo que arde sem se ver

Texto de Helder Mateus da Costa

Um Espectáculo de Helder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra

Camões, poeta prático

Texto de Hélder Mateus da Costa

Encenação de Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra

Elenco d’A Barraca

Assistentes de Produção Samuel Moura e Vasco Lello

Desenho de luz Vasco Letria

Operação de Luz e Som Ruy Santos e Ricardo Silva

Guarda-roupa Elza Ferreira

Secretariado Inês Costa

Design Gráfico e Fotografia Maria Abranches

M/12

Amor é fogo que arde sem se ver, porquê?

Um espectáculo do género histórico/poético, não pode transportar cargas poeirentas e ultrapassadas.

Homenagear os clássicos é modernizá-los e torná-los acessíveis ao público dos nossos dias. É nessa dificuldade que consiste o prazer de conseguir demonstrar que as histórias antigas têm a ver com o sempre constante e irregular comportamento humano.

Camões é um dos símbolos mais importantes do nosso século de oiro, o século XVI. E é um testemunho vivo do intelectual moderno e progressista na linha de Erasmo e Tomas More, seus contemporâneos. Através dos séculos foi sempre referido como um patriota pelos liberais e Republicanos, e também utilizado pela famílias mais reaccionárias (descendentes dos mesmos que sempre o perseguiram e lhe negaram qualquer apoio e protecção económica).

Por isso, era necessário fazer uma “operação de limpeza” ao nosso Camões e mostrá-lo em toda a sua grandeza e independência. Para exemplo aos jovens e intelectuais dos nossos dias.

Não é minha intenção propor um novo olhar para o ícone Camões e para o período das grandes navegações portuguesas, mas é preciso conhecer todas as realidades que eram sonegadas e ocultadas. Na linha de Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, Damião de Góis e Chiado que denunciaram nessa mesma época que esse período áureo se devia ao trabalho de cientistas e ao povo que era arrastado para as naus. E que Descobrimento foi frequentemente sinónimo de roubo e massacres a nível Universal. A História não se pode corrigir, mas eu só posso gostar do meu país ( ou de qualquer outro) se conhecer os lados positivos e os condenáveis.

Mas, também muito importante e interessante, é pensar que esse importante texto épico – além de oferecer aos navegadores portugueses o Amor como prémio na Ilha dos Amores, também é a grande aventura da língua portuguesa.

Hélder Mateus da Costa

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER (2024) conta a viagem de Luís Vaz, o navegador da Língua Portuguesa, transportando memórias de amores e desamores, muitas perdas e muitos maus tratos e prisões operados em sigilosos conluios por muitos inimigos seus contemporâneos. Tempo de disputas, glórias e intrigas, os perigos da inquisição ameaçaram sempre um dos homens mais livres do seu tempo e sem dúvida o seu maior poeta.

Depois de aventuras e desventuras que lhe vão acontecendo na sua pátria vai de viagem na rota de Gama. E consigo leva a Língua Portuguesa, ainda em construção.

Olhado como um texto épico Os Lusíadas são também o grande relato da aventura da língua portuguesa que nessa obra/ viagem se confirma e consagra. Perseguindo sempre a aventura mais arriscada, seja ela o amor, a viagem ou a poesia, na Índia conhece Garcia d’Orta, Diogo do Couto, apaixona-se, conhece Macau conhece a Ilha de Moçambique, Dinamene. Num naufrágio perde a amada e salva a nado o poema ao qual já dedicara anos de vida.

Salva-se regressa à pátria. Sempre mais rico, sempre mas mais pobre, sempre só. Trazendo consigo apenas o escravo Jau que o acompanhará até ao fim.

Em Portugal apresenta ao censor do Santo Ofício a obra que deseja ver publicada, embora com cenas eliminadas a obra é autorizada. A sua visão da” máquina do mundo” não é aceite e a cena da ilha dos amores é quase totalmente eliminada. O passo seguinte é mostrá-la a Dom Sebastião. O rei gosta dos Lusíadas e aprova a concessão de uma tença de sobrevivência ao poeta.

Não fosse a doença as coisas pareciam começar a correr melhor ao poeta e a vida começava a passar.

Tempo último…

Camões vai na manhã da partida das naus a Belém ver sair os barcos com D. Sebastião para Alcácer – Quibir. Ele está no fim. Já não pode ir de viagem e Portugal está perto do Desastre. Juntam-se as duas sortes.

Regresso a casa…

O poeta é apoiado pelo escravo Jau. Leva-o para casa, dá-lhe de comer, ajuda-o a subir a escada. No caminho cruzaram-se com a mãe do poeta, que desanimada com o tratamento da corte numa bela cena que cita Sophia de Mello Breyner, reclama do atraso da tença, que os obriga a viver de esmolas…

E o poeta do amor, como os marinheiros do Gama passa à eternidade embalado pela música do mar da ilha dos amores.

Momento feliz enfim. A Paz e o reencontro com a Beleza acompanham o regresso do poeta à sua ilha recuperada.


Maria do Céu Guerra

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