Que dia tão estúpido (1998)

Texto de Dario Fo
Encenação de Helder Costa
Teatro Cinearte, 4 de Abril

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Tradução: Maria do Céu Guerra

Cenografia: Miguel Figueiredo

Guarda-Roupa: Augustus

Remontagem, Adereços: Luis Thomar

Luz: Francisco Grave

Som: Fernando Pires

Assistência: José Carlos Pontes

Carpintaria de Cena: Mário Dias

Grafismo: Patrícia Portela

Elenco: Maria do Céu Guerra, Ilda Roquete, Carlos Sebastião, Jorge Mourato

DARIO FO e "A BARRACA" de MÃOS DADAS

Pois parece que o grande escândalo intelectual do século (ou do milénio?) foi a atribuição do Prémio Nobel a Dario Fo. O Prémio Nobel vale o que vale. Mas valeu para que beatas, videirinhos e inquisidores fungassem ódio e despeito, enquanto por aí houve muita alegria. E curiosamente, o povo anónimo felicitava a gente do teatro por esse êxito à escala mundial.
O que terá provocado esse prazer geral, e o que terá impelido a Academia Sueca a homenagear o cómico italiano?
Só há uma resposta: A qualidade específica da obra de Dario Fo. Artesão do humor, cultor da comédia e da farsa de forma a elevar este género - por alguns espíritos considerado menor e pouco profundo - ao zénith da fama, Dario Fo transformou-se num testemunho real do Teatro vivo. Atento à cultura e à História da sua pátria, arguto observador da gente do povo na melhor tradição de Ruzante ou Gil Vicente, corajoso interveniente na política de hoje, desmascarando manobras e golpes fascistas, fustigando a hipocrisia do Vaticano, Dario Fo cumpriu o papel que qualquer pessoa do teatro ambiciona: prestigiar a arte teatral elevando-a à condição de interlocutor indispensável na polémica social.
Foi por isso que nós estreámos Dario Fo em Portugal em 1980 com "Morte Acidental de um Anarquista", iniciando um ciclo de autores estrangeiros que consideramos da família do género superior da escrita que são a sátira do absurdo: Mrozeck, Woody Allen, B. Brecht, Molière, Ionesco, Ben Hecht, Fassbinder (?), Swift.
E agora voltamos a Dario Fo, acompanhado de Franca Rame: "Una Giornata Qualunque", que nós traduzimos por "Que dia tão estúpido", um desabafo cómico e violento sobre uma sociedade dominada pelo racionalismo (?) do electrodo-méstico, do computador, da dietética, do terror cancerígeno e do consumismo mais desregrado.
E tudo se passa, na melhor tradição de Dario Fo, numa situação limite: uma publicitária, interpretada por Maria do Céu Guerra, que se quer suicidar, que vai gravar em vídeo o seu suicídio e que regressa à vida devido a equívocos e obstáculos que se vão acumulando.
É uma situação triste e dramática. Mas que faz rir desabaladamente, porque se demonstra que a irrisão, o desregramento e a emoção acabam por triunfar sobre o pensamento e as acções rígidas e estereotipadas.
E assim, de uma forma simples, se volta pedagogicamente ao amor à vida. Deve ser por isso que Dario Fo ganhou o Prémio Nobel.


Hélder Costa

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