Primeira Página (1994)

Texto de Charles MacArthur e Ben Hecht
Encenação e dramaturgia de Helder Costa
TeatroCinearte, 15 de Julho


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Tradução: António Pedro

Guarda-Roupa, cenografia: Norberto Barroca

Guarda-Roupa (Maria do Céu Guerra e Ilda Roquete): Maria Armanda

Tradução: Maria Carlota Guerra

Assistência: Carla Carvalho

Desenho de Luz: Marinel Matos

Iluminação, som: Paulo Xavier

Produção: H.C. Álvares da Guerra, Laura Soveral, Paula Coelho

Fotografia: Carlos Gil

Elenco: Maria do Céu Guerra, Francisco Nicholson, João D’Ávila, Ilda Roquete, Nuno Melo, Rui Luís Brás, José Boavida, Pedro Alpiarça, Miguel Alpiarça

A notícia é uma arma

Quem não vê (ou lê), é como quem não sabe.
E como saber pode ser perigoso para a integridade física e intelectual do cidadão, bons espíritos defenderam, desde há milhares de anos, o pobre mortal com a invenção da Censura. Recentemente, o nosso ilustre antepassado Salazar dizia que o jornal era o alimento do espírito, e por isso, como qualquer alimento, tinha de ser fiscalizado e - acrescentamos nós -, ministrado em doses hábeis, sábias e convenientes.
Por acaso, ingratidões da História - que não há meio de ver o seu fim chegar -, fizeram com que por todo o mundo surgisse a obsessão  da informação, do conhecimento, da notícia... Esse movimento foi avassalador, e hoje a imprensa, a rádio, a televisão, abriram os nossos horizontes, tornaram-nos vizinhos e parceiros de felicidades ou tragédias longínquas. Claro que este fim de censura autocrática tinha de criar sucedâneos substitutivos - manipulação, falsificação, sensacionalismo, e outras formas de censura, principalmente de ordem económica e de pressão ideológica "in" (ou seja, parolice, incultura e arrogância, produto directo do novo-riquismo arrivista). Infelizmente, o fenómeno não é, nem podia ser, exclusivamente português, porque é a consequência do artificial enriquecimento e da especulação financeira das nossas sociais democracias dos anos 80.
Dirão os mais exigentes: mas então, acaba-se com a censura, e vêm coisas ainda piores?!
Para já, esclareçamos que não há nada pior do que a censura, e são de todos os dias os exemplos dos governos que tentam calar a informação, que tentam impedir a chegada da notícia ao homem da rua. Também se sabe que há jornalistas corruptos, que os lobbies de opinião se multiplicam, que... que... Mas que diabo! Não se pode querer tudo! (Ou, pelo menos, não há o direito da indignação quando se assiste a tudo passivamente).
A utopia de uma comunicação social impoluta e eticamente irrepreensível faria rir à gargalhada Jesus Cristo e o mais angélico dos seus fiéis seguidores. E há-de ser sempre assim, ou, pelo menos, não se pressentem mudanças nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo.
Por isso, com a tranquilidade de sabermos que não estamos a integrar uma epopeia gloriosa que nos desse uma informação pura e dura, basta-nos contribuir para que o tema se discuta com as armas que temos: o teatro, com a história e os actores que chegam ao público, o prazer de momentos de disfrute estético, e o seu privilegiado lugar de debate e confronto de ideias e sentimentos. Para que o cidadão seja mais esclarecido e mais participativo.
Que a polémica e o lúdico se instalem no nosso teatro, e que ninguém se esqueça que a notícia é uma arma.


Hélder Costa

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