De braços abertos (1993)

Texto de Maria Adelaide Amaral
Encenação de Fernanda Lapa
Teatro Cinearte, 12 de Dezembro


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Cenografia e figurinos: José Costa Reis

Execução de Guarda-Roupa: Maria Gonzaga

Desenho de Luzes: Manuel Costa e Silva

Luminotecnia: Marinel, Paulo Xavier

Banda Sonora: Fernando Pires

Operação de Som e contra-regra: Miguel Figueiredo

Cortina: Alice Ferrugem

Mestre Carpinteiro: Manuel Vitória

Fotografia: Carlos Gil

Elenco: Maria do Céu Guerra, Sinde Filipe

Que coisa assustadora realizar um sonho! E que arrogância tentar fazê-lo sem perder as palavras iniciais, o brilho inicial, o amor e a raiva iniciais, sem perder o mais profundo dos seus significados iniciais.
A construção deste teatro foi o papel mais difícil da minha vida de actriz, mas também talvez o menos perecível.
Quando aceitámos reconstruir o CineArte com a intenção de fazer dele um espaço teatral para a cidade, a morfologia da casa impôs-nos esta divisão de espaços.
A plateia seria uma sala ampla, polivalente, tão viva quanto a imaginação de quem a usasse. O espaço vazio sonhado pelos encenadores. E o balcão, onde a existência da bancada estrutural da casa obrigava a uma relação de espaço rígida, iria transformar-se num delicioso teatrinho no estilo Art deco que tinhamos preservado e reconstruído no Foyer.
E comecamos a sonhar. A sonhar com um espaço onde várias coisas pudessem ocorrer em simultâneo. Com um movimento de trocas, de intercâmbios permanentes com a Província e também com os outros países (especialmente os de língua portuguesa), onde repetidas vezes fomos recebidos como gente sem nunca podermos retribuir como gente. E também a sonhar com novas pessoas. Outras experiências que sem beliscar o projecto da Barraca o tornassem mais facetado, mais aberto. E também com outras expressões do espectáculo...
E de repente o sonho impôs-se como uma obrigação - logo seguido de um obcessivo pesadelo: «e se não conseguirmos?» E por ele submeter-nos voluntariamente a um trabalho escravo. Fomos patéticos, chaplinescos. A sonhar grandezas com os sapatos rotos. Tivemos pena de nós muitas vezes. Descobrimos amigos e inimigos inesperados. Foi exaltante e arrasador. E chegámos...
E a sala aí está quase, quase como a imaginámos. E aí está também o primeiro passo no nosso intercâmbio com o Brasil. A dar riqueza ao CITES. E aí está o convite a outras experiências. Com amigos, sempre. E cada vez mais. Aí está a Fernanda Lapa, o Sinde Filipe, o José Costa Reis, o Manuel Costa e Silva, a Leonor Xavier, o Carlos Gil e o Fernando Pires e os recentes Paulo, Marinel e Miguel, a darem vida à primeira obra de uma sala nova em Lisboa. E o Helder, claro, companheiro seguro de todas as aventuras. E a Calhó.
Por nós, chegámos ao fim do túnel. Abrimos os olhos, e vemos que está a amanhecer. Sacudimos a caliça... Agora é que o trabalho vai começar.

Maria do Céu Guerra

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