Parabéns a Você (1995)

Texto e Encenação de Helder Costa
Festival de Cádiz, 27 de Outubro


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Cenografia e Figurinos: Norberto Barroca

Assistência de direcção: Ilda Roquete, Paula Coelho

Banda Sonora: Fernando Pires

Desenho de Luzes: Marinel Matos

Operado de Luz e Som: Paulo Xavier

Cartaz: Helder Costa, Nuno Antunes

Fotografia: Luís Rocha

Elenco: Ana Brandão, José Boavida, Joaquim Nicolau, Carlos Vieira de Almeida, Pedro Alpiarça, Carlos Sebastião

A guerra está aqui

Mentiram-nos com todo o descaramento.
Anunciaram-nos o fim das ideologias, o fim da História e o aparecer do novo El Dorado planetário, com paz, amor, riqueza, fantasia...
Desfeito o truque mágico, apareceu a verdade oculta pelos aldrabões de feira: multiplicação de conflitos étnicos e religiosos, milhões arrastados para a miséria e a doença, o skin-head nazi cabeça de cartaz da nova sociedade-espectáculo, os profetas da desgraça roubando a dízima em nome de Deus, e uma comunicação social execrável, venal e cúmplice do rebaixamento ético dos nossos tempos.
É a Idade Média na era do computador.
Para se conquistar esse Paraíso eram necessários esforços, sim, e a selecção dos melhores era um pouco Espartana, mas os novos filósofos aí estavam para caucionar este novo darwinismo social. Claro que a Europa cega, egoísta e de velhíssima tradição etnocentrista se encantou com a miragem dos amplos mercados que se abriam por todo o mundo, particularmente a Leste... esqueceram-se da invasão dos bárbaros, e agora não sabem como fechar a caixa de Pandora (o que aliás não deve ser grande problema para quem ganha milhões a vender armas para os tais bárbaros se matarem entre eles).
É evidente que essa gente não gosta de ouvir estas observações - veja-se a histeria "democrática" na Alemanha contra Gunther Grass, levando a sua última obra, "Uma Longa História", a verdadeiros autos de fé porque o autor "escreveu acerca da extinta RDA de forma contrária à história oficial".
Penso que já devem estar arrependidos de ter deitado abaixo o muro de Berlim; como diz o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e o muro que já serviu para não deixar sair e por isso mesmo era o muro da vergonha, passaria a ser o muro do respeito porque agora era para não deixar entrar.
E voltamos à grande interrogação de sempre: será impossível atingir a paz Universal?
Pelos caminhos que se têm seguido, parece que sim. Porque são caminhos que desprezam a justiça social e as tradições e convicções sociais, em suma o tal pluralismo ideológico tão falsamente hasteado como bandeiras pelas actuais pseudo-democracias.
Mais grave ainda, hoje existe um exacerbar do individualismo egoísta, arrogante e imoral.
Este é o ponto da questão: em lugar de só nos preocuparmos, aliás cada vez mais hipocritamente, com Bósnias, Tchetchenias, Timores, Ruandas e Chiapas que se irão reproduzir como cogumelos nos tempos que aí vêm, era bom começarmos a olhar para nós e para os que estão à nossa volta. É possível que se desvende uma verdade pouco
cómoda: o conflito Universal começa em cada um.
A guerra não está longe, a guerra está aqui, está em nós, está dentro de nós.
Nós interrogamo-nos: como terminar com o precário equilíbrio das relações humanas? Como estimular a auto-confiança, a participação, o amor pela dignidade, o exercício da cidadania?
Em suma: como terminar com a imoralidade, a venalidade e a cobardia cívica, fontes de todos os males e de todas as guerras?


Hélder Costa

O que dizem sobre nós

“Trata-se de um magnífico espectáculo teatral, desconcertante pela mescla de doçura e de violência e que tanto pode fazer pensar em Brecht, pelo que tem de “distanciado” e de exemplar, como na catarse escatológica de textos do tipo Quem tem medo de Vírginia Woolf?”

Urbano Tavares Rodrigues, in Avante (Março 1996)

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