O Bode Expiatório (1997)

Texto de R.W. Fassbinder
Encenação de Maria do Céu Guerra
Teatro Cinearte, 15 de Novembro

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Cenografia: Mário Alberto

Tradução: Maria Carlota Guerra

Figurinos: Sandra Calado

Produção: Gracinda Nave, Pedro Carraca, Rita Lello e Tiago de Faria

Luminotecnia: Francisco Grave, Paulo Xavier

Sonoplastia: Fernando Pires

Cortes e Penteados: Carlos Santos Silva (Ayer)

Desenho gráfico: Inês Carvalho

Carpintaria de Cena: Mário Dias, Paulo Ramalho

Lutas cénicas: Kot Kotecki

Fotografia: Mário Guerra, Luís Rocha

Elenco: António Igrejas, Edite Vicente, Filipa Pisabarro, Gracinda Nave, Hugo Samora, Maria João Miguel, Nuno Nunes, Pedro Carraca, Pedro Tavares, Rita Lello, Tiago de Faria

Porquê de novo Fassbinder sete anos depois de “Liberdade em Bremen” se o quase esquecimento em que caiu o criador mais agreste e incómodo, e malcriado, e controverso e excessivo, tem tranquilizado os moderados, que somos nós todos?
Por que razão levar à cena, justamente, o seu primeiro trabalho. O mais difícil de cair bem. O mais descarada e obviamente carpinteiro?
Porque estamos numa Europa em que o desemprego cresceu assustadoramente. Mais propriamente, o emprego como repartição do trabalho necessário, acabou. E com isso a responsabilidade social dos Estados relativamente aos trabalhadores parece ter-se apagado. E não se encontrou nenhuma alternativa, nem nenhuma filosofia, nem nenhuma utopia que o substitua. E esta peça fala disso.
Porque estamos cansados de saber todos que o desemprego produz, entre outra coisas, xenofobia e racismo. E esta peça fala muito bem disso.
Porque é interessante que venham justamente da Alemanha os dedos que apontam o “ovo da serpente”, enquanto o discurso oficial europeu vai correndo no sentido inverso. E esta peça é Alemã.
Porque esta situação afecta principalmente os mais novos que começam a vida já cheios de medo e dispostos a tudo. E esta peça também é sobre isso.
Porque no nosso doce cooperante país pluriracial já se matou na rua um negro a pontapé. E a peça também trata disso.
Porque, não tendo solução para os problemas, que não é nem foi nunca função da Arte, se estivermos calados, “todos, sem excepção, temos a máxima culpa”. E Fassbinder não queria essa culpa. Aos berros. Por isso é que nem Fassbinder gostou muito de Fassbinder. Porque nesta voragem não se salva nem Deus.


Maria do Céu Guerra

Anterior
Anterior

1997. Gulliver

Próximo
Próximo

1997. Queres ser Ministro?