Um Dia na Capital do Império (1983)

Texto de António Ribeiro Chiado

Encenação de Hélder Costa

A Barraca da Alexandre Herculano, 21 de Janeiro, integrada na XVII Exposição de Ciência, Arte e Cultura


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Adaptação e fixação de Texto: Maria do Céu Guerra

Música: Orlando Costa

Cenografia: José Carretas

Adereços: Jorge Sacadura, Brigite e António

Guarda-Roupa: Maria do Céu Guerra

Execução de Guarda-Roupa: Alda Torres e Augusta

Luminotecnia: Luís Viegas

Elenco: Carla Osório Mourão, João Maria Pinto, José Carretas, José Gomes, José Rui, Luz Câmara, Madalena Leal, Manuel Marcelino, Maria do Céu Guerra, Orlando Costa

PRÉMIOS

Prémio Associação Portuguesa de Críticos - Melhores Figurinos: Maria do Céu Guerra 

Sete de Ouro - Melhor Encenação: Helder Costa 

Sete de Ouro - Melhor Actriz: Maria do Céu Guerra 

António Ribeiro, dito O Chiado, era um dramaturgo, actor, imitador, ventríloquo e outras coisas que tais. Sabe-se ainda, (ou calcula-se), que tenha sido boémio incorrigível, devasso, libertino, pessoa - portanto - de não muito conveniente moral. O que não era grande caso para espanto, a acreditarmos nas opiniões de Clenardo sobre a Lisboa Quinhentista.

Da obra que nos deixou - como sempre, a verdadeira e mais legítima fonte para se conhecer a personalidade de qualquer autor - extrai-se um profundo conhecimento do dia-a-dia da cidade e das várias camadas sociais que a habitavam. Chiado revelava-se um verdadeiro repórter, um agudo observador das "coisinhas simples e desinteressantes" dos acidentes falsamente banais que nos transmitem a realidade dessa urbe confusa, cosmopolita e contraditória que era Lisboa, rainha do mundo, raiz do sonho imperial português.

Daí que a dramaturgia deste espectáculo se orientasse segundo a perspectiva de mostrar o que era um dia de vida da nossa capital, mostrando os mercados, os amores, os casamentos, o jogo, a violência contra os judeus e negros, a venalidade do capelão-criado, a ociosidade dos fidalgotes, e o teatro como festa especial organizada em casa de quem “tinha posses” (ou de quem já surgia como empresário).

O espaco cénico assume-se como uma multiplicidade de zonas simbolizadas por esteiras - marca essencial das casas dessa época - e dissolve-se no espaco que é a rua, zona de conflitos gerais, da violência e do medo, e também dos encontros malandros e das astúcias populares. Chiado, na linha de Gil Vicente, demonstra que as regras da cidade são violentas e autoritárias. Mas também explica como o povo ilude as leis, vive e subverte.

Marginalizado, não beneficiário das riquezas que transformaram a Corte de Lisboa no alvo das invejas Venezianas e Flamengas, tem a sua canção, a sua dança, a sua gargalhada, o seu desespero. E também aqui, neste “Dia da Capital do Império", existe uma porta que se abre para albergar os que fogem à ronda. Esperando pelo cantar do galo (ou pelo raiar do Sol).

Hélder Costa

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