Tudo Bem! Reflexões Acerca do Homem Novo, 1982

Tudo Bem! Reflexões Acerca do Homem Novo (1982)

Texto de vários autores portugueses

Dramaturgia de Helder Costa

Encenação Colectiva


Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), Porto, 20 de Novembro de 1982


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Música: Fausto, Orlando Costa, Tradicional Popular, Vitorino e Zeca Afonso

Cenografia e Guarda-Roupa: Jorge Sacadura, José Carretas, Suzana de Carvalho 

Costureira: Augusta

Carpinteiro: João Manaças, Luís

Luminotecnia: Paulo Graça

Sonoplastia: José Manuel Gonçalves

Elenco: Carla Osório Mourão, Clara Rocha, João Maria Pinto, João Soromenho, José Carretas, José Gomes, Madalena Leal, Manuel Marcelino, Maria do Céu Guerra, Orlando Costa

A Barraca propôs um tema para análise e exercício de escrita: a relação entre o Homem e a Sociedade, o conflito entre o velho e o novo, ou, se se quizer entre a inovação e oconservadorismo, entre a ousadia e a passividade.

(...) Os textos selecionados - e os que foram criados pelo grupo - apresentam várias pistas para a discussão do tema proposto. Umas vezes fala-se a sério, outras a brincar. Como convém com estes assuntos. De onde vem esse Homem Novo? De experiências de laboratório? Destina-se a criar mais-valia? Virá da grande família camponesa, esperançada e frustrada? Será reprimido pelo "polícia novo" que é criado por esta "nova" sociedade? Como é educado? Como aprende? Como reaje perante a televisão e o embrutecimento ideológico? Entrará na crise da esquerda, nova ou antiga? Passará pelo desânimo do operariado? Será derrotado pela dinâmica de um mundo frio, duro e insensível? Não será melhor, ao fim e ao cabo, deixar andar e esperar por melhores dias? Lutar pelos outros porquê, para quê? No fim de contas, não é verdade que o crime compensa?

Estas - e muitas outras - são as questões que pontuam o espectáculo.

(...) Afirmando a nossa conviccão sobre a impossibilidade de existir um homem novo, sincero e fraterno, em gestação numa sociedade velha e corrupta. Considerando irrealista e panfletário qualquer discurso que tentar iludir estes dados. Reafirmando que a tarefa essencial de todos nós continua a ser a de lutar pela transformação da sociedade.

Isto determina que o espectáculo não seja entusiasta, nem glorificador, nem panfletário. Porque assenta na denúncia do oculto e do sub-texto, e, por vezes, nos individuais perturbados por paranóias e traumatismos. Mas também se trata de um acto teatral que não cede ao pessimismo, nem à hipócrita exibicão de "angústias metafísicas", essa moderníssima (velhíssima) máscara de alienação e de "mudança de campo".

Porque acreditamos na força das raízes que criaram este mundo.

Porque pensamos, como diz o poeta Raul de Carvalho, que é preciso atirar uma pedra para perder, subitamente, o medo. Para que tudo isto comece a ficar, sem ironia, TUDO BEM.

Hélder Costa

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