Uma Floresta de Enganos (1991)

Texto de Gil Vicente
Dramaturgia de Helder Costa e Maria do Céu Guerra
Teatro Principal, Santiago de Compostela, 13 de Setembro

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Guarda-Roupa: Maria do Céu Guerra

Música: Orlando Costa

Cenografia: Carlos Ramalho

Adereços: Victor Sá Machado

Luminotecnia: Carlo Pereira

Montagem: Zé Neto

Assistente de Cenografia: Helena Macedo

Programa, Cartaz: Helder Costa, Maria do Céu Guerra

Fotografia: Armindo Cardoso

Fotografia de Maria Parda: Dinis Coelho 

Elenco: Carla Torres, Eugénia Bettencourt, João Maria Pinto, João Ricardo, Luís Filipe de Almeida, Madalena Leal, Maria do Céu Guerra, Pedro Alpiarça, Rui Pisco

Primeira árvore da floresta: o nascimento de D. João III.
Gil Vicente embelezou essa árvore com o verso e a arte de contar histórias. Sem o saber nascia para o teatro e começava a criar uma imensa e belíssima floresta.
Começou simples, ingénuo, rural, convencional, à maneira dos grandes de outras Cortes da época; depois, foi a leitura, a escrita, a intervenção, a preocupação com os outros e com o seu tempo; espreitou os vícios com um humor terno e fustigou as falsas virtudes; soube dar voz e entrada em cena ao vilão, ao almocreve, ao lavrador, ao judeu, e também a alcoviteiras, escudeiros, e mercenários - porque o povo não é só boa gente e a ralé tem mesmo de existir, para sossego e protecção dos que mandam nela.
Gil Vicente sabia olhar para as pessoas, e porque gostava delas, criou personagens imperecíveis; queria estudar o quotidiano e assim conseguiu desenhar uma obra verdadeira e real; como não aceitava limitações ao sonho e ao vôo poético e imaginativo, abriu as suas páginas ao mágico e ao sobrenatural. E como corolário de um estilo, é evidente que muito do seu “verso livre” respira humanismo, libertarismo, e tudo o mais que tem feito e fará a corrente do Progresso.
Claro, que esta postura cultural se paga. E, Mestre Gil, pagou-a bem.
Sofreu perseguições, calúnias, invejas medíocres, castigos e vinganças mesquinhas, contra tudo o que plantava.
Em 1536, ao fim de 34 anos de trabalho teatral, Gil Vicente cala-se.
A Inquisição tinha sido estabelecida em Portugal. Pela mão de D. João III.
Por ironia histórica, a mão do censor, era a do mesmo bébé, que com o seu nascimento, tinha ocasionado o nascimento do Teatro Português.
Depois, passaram e morreram reis e censores.
Quanto ao autor, acabou por viver em paz e sossego à sombra da sua maravilhosa floresta.
Pelo teu teatro - vida - sonho - testemunho, obrigado Gil Vicente.


Hélder Costa

O que dizem sobre nós

“...‘Uma Floresta de Enganos’, (...), é um dos mais interessantes espectáculos vicentinos feitos em Lisboa nos últimos anos (e não foram poucos). É de certeza a mais conseguida antologia de peças de Gil Vicente (houve três de há um ano para cá, uma no Teatro da Malaposta e outra da Comuna)

Manuel João Gomes, in Público (1992)

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