Agosto – Histórias de Emigração (1999)

Textos sobre a emigração
Dramaturgia e encenação de Maria do Céu Guerra
Joane, 21 de Agosto


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Espaço Cénico: Maria do Céu Guerra

Cenografia, Adereços: Luis Thomar

Figurinos: Sónia Benite

Direcção Musical: Paulo Serafim

Luminotecnia: Paulo Xavier

Foco, Maquinaria: José Carlos Pontes

Sonoplastia: Fernando Pires

Fotografia: Mário Guerra

Elenco: Carla Alves, Carlos Oliveira, Carlos Sebastião, Catarina Santana, Fernando Pires Júnior, Ilda Roquete, Jorge Mourato, Luis Thomar, Mafalda Franco, Miguel Telmo, Paulo Serafim, Ricardo Medeiros de Castro, Sérgio Moras, Susana Cacela

Falar dos "outros" portugueses era, desde há muito, projecto da Barraca. Dos que mal conhecemos. Dos que foram, a salto no escuro. Dos que não aqueceram o lugar porque ele não estava lá. Dos de quem se fala pouco e sempre pelas mesmas razões. Dos que voltam, aos bandos, em Agosto e às vezes morrem, de euforia, na estrada. Dos que sonharam anos a fio com um Agosto que não chegou a acontecer. Dos que vêm casar à terra num Agosto de mel. Agosto mais espaço do que tempo. Agosto lugar de reencontro. Reencontro da casa, ponto de partida, que a certa altura, se quis esquecer e ficou pregada na memória. E da casa ponto de chegada, parecida com a do vizinho de "lá". Recente orgulho. Merecida afirmação que a pouco e pouco, vai alterando a paisagem de cá.
Falar. Mas de que experiência? De que viagem? De que época? Se os portugueses, "ilhéus", espartilhados entre o Atlântico e Espanha, com quem tradicionalmente se deram mal, dependurados em Sagres ou a espreitar os aviões no aeroporto de São Miguel, querem sempre partir e sempre o fizeram, de uma maneira ou de outra.
De como falar, nunca tive dúvidas.
Em primeiro lugar queria fazê-lo a várias vozes. Escolher histórias boas, que para mim são histórias onde há poesia, contradição e crueldade. Depois, olhar para elas com o meu olhar. O meu, aquele onde se caldeia o que sou com o que vi, aquele que não é de mais ninguém e isso basta para ser original. Sem preocupações de paradigmas, nem de linguagens contemporâneas. Em última análise, porque não tenho dúvida de ser contemporânea de mim mesma.
Fui de camioneta com Olga Gonçalves; para a América com um clandestino a bordo, pela mão de Rodrigues Miguéis. Com ele embarquei num sonho americano que se desfez; viajei de comboio para a Alemanha; fui à baleia com Dias Mello à boleia de Melville; à guerra com João de Melo. Entrei numa historia negra, com Manuela Degerine, no pe-sadelo xenófobo da França de todos os dias e regalei-me a contrariar a "tragédia" alentejana com o texto mais engraçado do espectáculo.
Durante três meses, os estupendos actores da Barraca, e o Pires, e o Paulo, e o Zé Carlos, e a Zi, e a Marisa, e a Calhó, e o Chango, e eu emigrámos também.
No fim da viagem tínhamos o Hélder à espera. Fraterno como sempre.
O espectáculo está aqui. É um mosaico. Uma antologia.
Poucas histórias felizes porque os felizes não têm história, é que se o mundo tivesse corrido bem não havia Arte com certeza.

Maria do Céu Guerra

Segunda Fase

Agosto - Contos da Emigração (2007)

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1999. Abril em Portugal