Zé do Telhado, 1978

Zé do Telhado (1978)

Texto de Hélder Costa

Encenação de Augusto Boal

A Barraca da Alexandre Herculano, 20 de Junho 1978

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Música e Direcção Musical: Zeca Afonso

Cenografia e Figurinos: João Brites

Luminotecnia: António Cara D’Anjo

Contra-Regra: Mestre Libertino

Execução de Guarda-roupa: Aida Leite, Maria do Rosário e Sofia Pinto

Cartaz: João Paulo Bessa

Elenco: João Maria Pinto, João Soromenho, Luis Lello, Manuel Marcelino, Margarida Carpinteiro, Maria do Céu Guerra, Mário Viegas, Orlando Costa, Paula Guedes, Santos Manuel

O que dizem sobre nós

Diário de Lisboa
(14-07-1978)

«A vida e aventuras de maravilha do Zé do Telhado, o José Teixeira da Silva, que roubava aos ricos e poderosos para distribuir pelos pobres é contada diariamente pela “Barraca” no seu teatrinho da Alexandre Herculano, ali junto ao Largo do Rato. 
Trata-se de um inolvidável espectáculo popular: música de Zeca Afonso, texto de Helder Costa, encenação de Augusto Boal e, sobretudo, uma risota pegada, do princípio ao fim. Orlando Costa é o protagonista se protagonista se pode dizer deste ‘herói’ diluído no meio do seu ‘gang’ e das lutas sociais da época. Mas há outras interpretações a reter, como Mário Viegas, Céu Guerra, Manuel Marcelino, Paula Guedes, Luis Lello e, afinal, todos os demais da peça: Margarida Carpinteiro, Santos Manuel, João Maria Pinto e João Soromenho.»

Sete
(27-09-1978)

«“Zé Telhado” para rir - e não só. Espectáculo divertido e popular, a peça de Hélder Costa encenada por Augusto Boal e musicado por José Afonso, conta duas histórias paralelas: as aventuras de Zé do telhado e as aventuras e desventuras de D. Maria II e dos seus homens de confiança.»

Teatro Construção

(…)

«O texto de Helder Costa, pensamos ser fiel à história, por isso o esco-hemos e a forte crítica social que usa, pode não agradar a todos, mas há vícios corruptos que se mantêm numa constante histórica e ainda hoje, são parte do dia a dia do nosso existir, que é necessário criticar, porque como se diz na peça: «homens como o Zé do Telhado desa- parecerão da sociedade precisamente na altura em que, da sociedade, forem banidas as condições que criam estes homens...»

 PRÉMIOS

Prémio Cau Ferrat - Melhor Contribuição Artística, Festival de Sitges

"QUEM ROUBA UM PÃO, VAI PARA A PRISÃO…

   Imaginem que vivem num país qualquer.

  Que, nesse país, há uma ditadura feroz sobre o povo. Isso quer dizer fome, miséria, medo, falsa alegria, falsa liberdade.

  Um dia, por qualquer motivo - os processos revolucionários comecaram sempre por acidentes que pareciam sem importância- o povo mexeu-se. E agitou-se tanto que obrigou a saída de Ministros, discursos cheios de promessas, nova arrumação do Poder. Mas o povo continuou a mexer-se. Demais. Perigosamente.

  E então, os discursos mudaram. Tornaram-se agressivos. Alertavam para o pecado.

  Ameacavam com o perigo da guerra civil.

  E o povo, sempre a crescer. Ocupando terras, queimando papelada dos impostos, ridicularizando descendentes das velhas Monarquias, desprezando os novos Senhores, hábeis, melífluos e insidiosos.

  "Ah querem guerra? " - vociferava quem manda - "pois, te-la-ão!". E houve guerra.

  Mas... - também acontece - o povo foi para a guerra. E, aldeia a aldeia, povo a povo, de serrania em serrania, foi avançando.

A grande cidade - linda; brilhante e aperaltada - não sabia o que fazer. Tinha Ministérios, polícias, canhões, ouro (ainda havia, sim senhor. Bem escondido, mas havia). Tinha a gente que mandava. Para quê? O povo, (a gente que trabalhava) estava em revolta, alvoroçado... e, morrer por morrer, começava a escolher o campo desses bárbaros que vinham das planícies e das serras, estropiados, brutos, mal educados, mas, ao fim e ao cabo, mais próximos dele do que essa gente que se passeava de carruagem e que o espirrava de lama quando galopava pelas ruas.

O Poder apanhou medo. Um medo de morte. Ja não havia gente para comprar como policias ou denunciantes, já não havia populaça para manobrar, e toda a escória social já estava organizada em milícias armadas, grupos para "manter a ordem, batalhões "divinos", etc.

Não havia outra saída. Acordo internacional, formação de uns "Aliados", invasão do país, massacre do povo, discursos inflamados sobre a Pátria e a subversão, e reforço do velho Poder.

A Barraca

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