Os Renascentistas (2003)

Texto e encenação de Helder Costa
TeatroCinearte, 30 de Setembro

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Adereços e Máscaras: Vitor Sá Machado

Figurinos: Luis Thomar, Sandra Pereira

Operação de luzes: José Carlos Pontes

Sonoplastia e operação de som: Fernando Pires

Execução de Guarda Roupa: Sandra Pereira, Maria Elisa Ribeiro

Carpintaria: Mário Dias

Produção e Relações Públicas: Elsa Lourenço

Secretariado: Maria Navarro

Cartaz e Design Programa: César Furtado

Elenco: Carla Alves, Catarina Santana, Sara Noronha, Gil Filipe, Luis Thomar, Paulo Duarte Ribeiro, Pedro Estorninho, Sérgio Moras

É uma das peças que encerram as comemorações dos 25 anos da Barraca. Significa um balanço e uma homenagem a um dos vectores de trabalho que mais nos são caros: a História e a Cultura de Portugal.
As personagens principais serão Gil Vicente, Camões, Damião de Góis, Fernão Mendes Pinto e Chiado.
Além de conhecimento mútuo, houve entre eles vários temas comuns: uma relação irregular com a Corte, o que os afastava do "cofre das graças", uma procura humanista que lhes granjeou perseguições da Inquisição e injustiças várias, as viagens à procura de riqueza ou de liberdade, a qualidade artística com as correspondentes invejas, os amores, e um final de vida infeliz.
Em diferentes graus, - ou porque herdeiros da Idade Média (Gil Vicente), ou porque
dificilmente classificáveis (Chiado) -, foram todos marginalizados.
Felizmente, não era marginalizáveis.


Hélder Costa

Sinopse

Os Cinco Companheiros

Porquê escrever uma peça em que os personagens principais são Gil Vicente, Damião de Góis, Camões, Fernão Mendes Pinto e Chiado?

Antes de mais, porque além de simbolizarem o que de melhor existiu como arte e literatura no nosso século de ouro, o século XVI, gosto deles como pessoas.

E como é frequentemente raro encontrar um acordo perfeito entre o homem e a obra, pensei que também essa característica fosse interessante para divulgar.

Depois, não parece difícil imaginar tertúlias, encontros fugazes, cumplicidades e relações de amizade entre esta gente.

Ou estão em comunhão e relação directa com o povo, na vida mesmo ou como fonte de inspiração, ou se comprometem com o povo - caso do mais distante dessa "populaça", talvez Damião de Góis, mas cuja defesa dessa gente da rua lhe mereceu acusações no processo da Inquisição.

Foram imaginativos, criativos, e correram riscos abrindo caminhos novos na sua Arte:

- No teatro, Gil Vicente claro, mas também Chiado, primeiro cronista da comédia dos bairros populares de Lisboa (antepassado da revista?), e autor da pequena obra prima que é o Auto da Natural Invenção;

- Na música e na crónica, a grande figura do Renascimento Europeu, feitor da feitoria de Flandres, amigo e disciplo de Erasmo, um dos mais destacados alunos da Universidade de Pádua, reitor de Lovaina, encarregado da Torre do guiçõe Tombo, Damião de Góis;

- Na literatura de viagens, simbiose narrativa e filosófica que iria inspirar Swift nas suas Viagens de Gulliver, o autor da fabulosa Peregrinação, Fernão Mendes Pinto;

- Na poesia épica e lírica, o nunca bastante celebrado Camões.

Outros factores os juntam: estão comprometidos com a luta de ideias do seu tempo, professam ou simpatizam com o Erasmimsmo (não com o radicalismo Luterano), repudiando os sediços dogmas da infabilidade do Papa, as indulgências, as buas, as confissões, o poder imperialista de Roma, passam ao lado do intriguismo palaciano (e, por isso mesmo, criam inimigos no ninho de víboras que são as Cortes de qualquer época), têm sempre o olhar aberto para o novo, a descoberta, o desbravar caminhos ao serviço da Humanidade.

Como se vê, pelos dias de hoje, havia gente muitíssimo avançada no nosso século XVI.

Claro que, logicamente, essas posições pagam-se: denunciados por inimigos rivais, foram perseguidos pela Inquisição, e nunca tiveram acesso às tenças, aos generosos “subsídios de criação” que os poderes distribuem generosamente, através dos séculos, por quem ele sabem muito bem que merecem.

(O caso de Damião de Góis é diferente. O “rico fidalgo flamengo” não precisava de subsídios; tinha o seu trabalho, e seria bem pago. Mas como abusou da palavra e da verdade, acabou preso pela Inquisição, e seria posteriormente assassinado).

Também é de imaginar que todos fossem gente de riso e de paródia, contra taciturnices, angústias metafísicas, pensamentos mórbidos e culto “intelectual” da morte.

Como se poderia resistir a tanta contrariedade do exterior - lutas, naufrágios, miséria, intrigas, perseguições, - se não se tivesse esse humor que assenta em gostar de si próprio para poder gostar dos outros, e acreditar no que se anda a fazer?

Um Renascentista é uma Humanista que não morre.

E estes que nos apresentamos, como não são intelectuais isolados na sua “torre de marfim”, gostam de comunicar, de ouvir e ser ouvidos.

Saibamos falar com eles; dizem coisas com interesse e são uma óptima companhia.

Hélder Costa

Anterior
Anterior

2003. A Profissão da Sra. Warren

Próximo
Próximo

2003. A Revolta dos Bonecos