A Relíquia (2000)
Texto de Eça de Queiróz
Dramaturgia e encenação de Hélder Costa
Teatro Cinearte, 8 de Julho
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Versão e Música: António Victorino D’Almeida
Direcção Musical: Paulo Serafim
Cenografia, Figurinos: Norberto Barroca
Coreografia e Danças: Vicente Trindade
Confecção de Guarda-Roupa: Joaquina Garcia, Luis LAfuente
Assistência de Encenação: Catarina Santana
Luminotecnia: José Carlos Pontes
Sonoplastia: Fernando Pires
Montagem: Mário Dias, Paulo Ramalho
Grafismo: H. Gabriel
Fotografia: Luís Rocha
Secretariado: Maria Navarro
Produção: Cláudia Mateus
Colaboração: Mário Dias Garcia
Elenco: Maria do Céu Guerra, João D’Ávila, Carla Alves, Catarina Santana, Jorge Mourato, Luis Thomar, Mafalda Franco, Miguel Telmo, Paulo Serafim, Sérgio Moras, Susana Cacela
Há muitos anos, António Victorino de Almeida convidou-nos a dirigir A Relíquia para a programação do S. Carlos.
Projecto aceite, mas algo emperrou no Olímpo da nossa ópera, e o sonho esfumou-se. Ano 2000, comemorações Queirozianas, e eis que chegou a oportunidade para realizar esse projecto.
É evidente que nós não tratámos A RELÍQUIA com o respeito cerimonioso e mórbido com que se tratam as relíquias. Pelo contrário, reforçámos o realismo fantasista da farsa (Eça de Queiróz dixit), e sublinhámos o aspecto da crítica das forças sociais, constante na obra do autor.
O espectáculo, como é hábito do grupo, é vivo, alegre, aposta na versatilidade do jogo cénico e do trabalho do actor.
A música o exigia e construímos uma quase? Opereta na linha de Offenbach.
Quanto ao lado polémico de A RELÍQUIA que aflige-ainda!, alguns narizes beatos e fariseus, é gratificante constatar que a pena de Eça de Queiróz não perdeu a sua lucidez e efeito corrosivo.
Basta olhar para o actual panorama de integrismos, fundamentalismos, seitas, superstições, o pedido de perdão do Vaticano, as beatificações a “martelo”, e assim por diante.
Não se trata de uma questão de fé, de amar a Deus ou de ter medo do castigo de Nosso Senhor.
Trata-se, como sempre, da luta entre o racionalismo e o obscurantismo, entre humanismo e manipulação de sentimentos, entre, em suma, o verdadeiro e o falso.
Como demonstraram, através dos séculos, Gil Vicente, Damião de Góis, Erasmo, Giordano Bruno e muitos outros.
Talvez seja essa a única forma de respeitar a Deus.
A Barraca
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