Depoimento Público de Adérito Lopes

Queridos amigos,
Queridos jovens,
Queridos atores consagrados, iniciantes, sonhadores,
Queridos companheiros de todas as idades, profissões e causas,
e todos os que hoje aqui se reúnem para celebrar a nossa fé comum na cultura, na educação, no teatro e no futuro.

Pedi à Rita Lello que lesse este texto.
A Rita, que é membro desta casa que é A Barraca,
e A Barraca, que é parte de uma família maior — esta que aqui está hoje reunida. A família do teatro português.
Sim, somos uma família. Uma família disfuncional, por vezes impaciente, crítica, imperfeita — como todas.

Como em todas as famílias, zangamo-nos. Discordamos.  Falamos alto, às vezes falamos mal uns dos outros, porque também nos magoamos. Mas se alguém de fora nos aponta o dedo, unimo-nos.  Porque a base é o amor.

Não há outra.  É o amor que justifica esta escolha de vida difícil, tantas vezes precária, tantas vezes solitária — mas que nos salva.

Não estou hoje aqui fisicamente.
Não por querer ser o herói ausente de um drama — que, felizmente, não chegou a ser uma tragédia.
Também não vítima exemplar.
Sou apenas um ator. Mais um. Como tantos. Como tantos que cá estão.

Nestes dias recebi um afeto que nunca imaginei.
Li todas as mensagens. Todas.
Vieram de colegas, alunos, professores, artistas, cidadãos anónimos, políticos…
Vieram também através da minha agente, Teresa Miguel Amaral, e dos que comigo trabalham e me estimam. Da minha querida escola – o IDS.
E, claro, da família d’A Barraca. E sobretudo da minha Maria do Céu Guerra, que é abrigo e muralha.

Senti-me pequeno diante de tanto amor.
Nunca imaginei que o ser humano fosse ainda tão generoso.
Afinal, ainda há esperança.
E é nela que quero investir.
Eu. A Rita, que lê estas palavras. Todos vocês.
Sobretudo os jovens que aqui estão.

É para vocês que falo.
Porque vocês são o futuro. E são a nossa responsabilidade.
Temos o dever de vos abrir portas — do teatro, da televisão, do cinema, daquilo que escolherem.
Como um dia nos abriram a nós.
Não vos devemos apenas oportunidades:
devemos-vos escuta, humildade, espaço para errar, para experimentar, para criar.
Vocês têm tanto para nos ensinar.

A única bandeira que aqui levanto é a Bandeira pensamento livre.


Mas para isso — para essa civilização política, social, artística — é preciso estudar. Pensar. Criar.
É esse o único conselho que me atrevo a dar-vos, jovens: estudem. Pensem. Criem.

Celebrem.
Falem de teatro.
Deem-se a conhecer aos veteranos que aqui estão.
Aprendam uns com os outros.
Talvez hoje seja, quem sabe, o Dia Nacional do Futuro do Teatro Português.

E porque a minha vida é uma dramaturgia que é livre para conter incongruências, até sou católico.

Deixem-me terminar com a única autoridade moral que me comove:
e digo como o Papa Francisco — esse sim, um ídolo:

TODOS, TODOS, TODOS.

Muito obrigado.

Adérito Lopes, 15 de junho de 2025

Depoimento Público de Maria do Céu Guerra

AMIGOS, COMPANHEIROS

 

OBRIGADA POR ESTAREM AQUI A MANIFESTAR O VOSSO REPUDIO CONTRA A VIOLÊNCIA DE QUE A COMPANHIA DE TEATRO A BARRACA FOI VÍTIMA NO PASSADO 10 DE JUNHO E TAMBEM CONTRA OS TODOS OS ACTOS DE VANDALISMO NAZI DE QUE QUE TEMOS NOTÍCIA DIARIAMENTE CONTRA:

IMIGRANTES, MULHERES, PESSOAS EM SITUAÇÃO DE SEM ABRIGO, IDOSOS E PESSOAS RACIALIZADAS, PESSOAS LGBT.

O VANDALISMO CONTRA A CULTURA É TÃO GRAVE E TEM TANTAS FACES COMO QUALQUER OUTRO VANDALISMO NAZI, MAS DEVEMOS APROVEITAR A SUA VISIBILIDADE PARA O DENUNCIAR, O COMBATER E EXIGIR JUSTIÇA CONTRA TODOS E QUALQUER UM DOS SEU ACTOS.

O NOSSO COLEGA ADERITO LOPES FOI AGREDIDO NA CARA, SEU INSTRUMENTO DE TRABALHO, AINDA NÃO SABEMOS COM QUE CONSEQUÊNCIAS. SEGUNDO OS MEDICOS O FERIMENTO ACUSA EVIDÊNCIA DO USO DE UMA ARMA BRANCA. A POLÍCIA IDENTIFICOU O CRIMINOSO E DEIXOU-O SEGUIR EM LIBERDADE. ENQUANTO O AGREDIDO FOI PARA O HOSPITAL ONDE LEVOU PONTOS Á VOLTA DO OLHO DIREITO.

NÃO NECESSITAMOS DE MAIS POLÍCIA DESTA PARA NOS DEFENDER. PRECISAMOS SIM QUE OS ESPAÇOS PUBLICOS SEJAM VIGIADOS, QUE AS PESSOAS TODAS SE SINTAM PROTEGIDAS E, ISSO SIM, QUE OS PREVARICADORES SEJAM FORTEMENTE PUNIDOS.

O AGRESSOR JÁ TEVE OPORTUNIDADE DE APRESENTAR A SUA DEFESA NA TELEVISÃO, A PEDIDO DO SEU ADVOGADO.

PEDIU DESCULPAS E DIZ QUE NÃO PERTENCE A NENHUMA ORGANIZACAO NAZI. MAS JÁ FOI OUTRAS VEZES A ESTES RITUAIS. A ORGANIZAÇÂO A QUE PERTENCE, OU DESEJA PERTENCER, ESTÁ CLASSIFICADA COMO TERROPRISTA EM ALGUNS DOS PAISES EUROPEUS. NOS NOSSOS RELATORIOS PARA A SEGURANÇA INTERNA, BRANQUEIAM-NA.

AMIGOS COMPANHEIROS MERECEMOS MAIS.

NÓS, QUE TRABALHAMOS SEM TREGUAS CONTRA A IGNORANCIA E A INDIFERENÇA CULTURAL E TODOS OS OUTROS TRABALHADORES QUE DÃO O SEU MELHOR PARA QUE PORTUGAL SEJA UM PAIS ONDE SE POSSA VIVER.

E TAMBÉM TODOS OS QUE DIARIAMENTE LUTAM PELA PAZ E O ENTENDIMENTO ENTRE OS POVOS COMO O SHEIK MUNIR,  IMÃ DA MESQUITA DE LISBOA, RECENTEMENTE OFENDIDO NUMA CERIMONIA PÚBLICA.

TEMOS A OBRIGAÇAO E O DIREITO DE EXIGIR QUE O ESTADO NOS GARANTA UMA JUSTIÇA LIMPA, SEM VÍCIOS, RÁPIDA E EFICAZ.

JUSTIÇA JUSTA QUE MESMO OS POBRES POSSAM PAGAR.

JUSTIÇA.

OBRIGADA A TODOS OS QUE AQUI VIERAM E A TODOS OS QUE POR OUTROS MEIOS SE MOSTRARAM SOLIDARIOS.

Maria do Céu Guerra, 15 de junho de 2025